De
14 a 21 de outubro diversos estados do Brasil realizaram ações para promover a
Semana Nacional pela Democratização da Comunicação. Na Bahia, as atividades
aconteceram em Salvador, Lauro de Freitas, Conceição do Coité, Vitória da
Conquista, Cachoeira e Ilhéus. A articulação no Estado se deu a partir do CBCom
– Coletivo Baiano pelo Direito à Comunicação, em parceria com diversas
representações, professores e estudantes.
Alex Hercog (Vida Brasil / Intervozes / CBCom) |
Para
Alex Hercog, membro do CBCom, do Intervozes e da Vida Brasil, a realização da
Semana pela DemoCom foi fundamental: “não podemos recuar em relação ao debate
do direito à comunicação, sobretudo porque o nosso modelo midiático pouco mudou
nos últimos anos”. Para ele, alguns desafios históricos ainda permanecem: “o
oligopólio midiático se mantém; o setor continua sem regulamentação; e nunca
foi feita uma revisão das concessões públicas, fazendo com que políticos e seus
familiares ainda detenham o controle dos meios de comunicação”. Para Alex,
outros problemas que precisam ser solucionados são o fim da propriedade cruzada
dos meios, uma distribuição mais democrática das verbas de publicidade
estatais, e o desenvolvimento de políticas públicas que estimulem a produção
alternativa, a diversidade e a descentralização dos meios de comunicação, “para
garantir a liberdade de expressão para toda a sociedade e não apenas para poucos
grupos” – conclui.
Salvador
UNEB/Salvador |
A
Semana pela DemoCom começou no dia 14 de outubro, com a primeira atividade
sendo realizada na sede da Vida Brasil, durante reunião do Coletivo Baiano do
Fórum Social Mundial. No dia 15, os organizadores do Encomum promoveram um
debate na UNEB sobre “Democratização da comunicação e mídias alternativas”.
Participaram a jornalista Ivana Dorali; Yananda Lima e Laura Almeida (Desabafo
Social; Carlos Jota (Site Nosso Engenho) e Alex Hercog (Vida
Brasil/Intervozes).
No
sábado, 17, um encontro cultural realizado no Instituto de Mídia Étnica marcou
o dia nacional pela Democratização da Comunicação. O evento contou com exibição
de vídeos produzidos pelo Coletivo Tela Preta, sarau de poesia com o grupo
Resistência Poética, rap com Trampo MC e convidados, além do lançamento da
cartilha “Caminhos para a luta pelo direito à comunicação no Brasil”, publicado
pelo Intervozes.
Instituto de Mídia Étnica |
Na
quinta (22) foi realizado o debate sobre “Direito à Comunicação, Educação e
Terceiro Setor” no campus da Unifacs, com a participação de Alex Hercog (Vida
Brasil/Intervozes) e Everton Nova (Rede Mbote). Por fim, na sexta (23), o
Instituto de Mídia Étnica (IME) promoveu uma coletiva para apresentar a agenda
de comemoração de 10 anos do Instituto. Para Paulo Rogério, coordenador do IME,
a Semana pela Democratização da Comunicação tem um simbolismo especial, pois
“foi durante a Semana que o Mídia Étnica surgiu e hoje completa 10 anos de
existência”.
Unifacs / Salvador |
Lauro de Freitas
Em
Lauro de Freitas, a atividade ocorreu na Base Comunitária da Polícia Militar em
Itinga, no município de Lauro de Freitas. O debate girou em torno da
representação midiática sobre os jovens da periferia, do controle midiático e
da violência. Alguns policiais e cerca de 20 adolescentes participaram da
atividade.
Em
uma das falas, um soldado lembrou o episódio que ocorreu em 2001, em Salvador,
quando a Tropa de Choque da PM invadiu a UFBA (Universidade Federal da Bahia)
para dispersar violentamente os estudantes que protestavam contra o senador
Antônio Carlos Magalhães. Na época, a TV Bahia, filial da rede Globo e
controlada pela família Magalhães, omitiu essa ação dos noticiários, o que fez
ativar o debate sobre a concessão pública de tv para políticos e seus
familiares.
Itinga (Lauro de Freitas) |
Alguns
jovens também relataram a discriminação sofrida no mercado de trabalho por
serem moradores de bairros estigmatizados pela grande mídia, sobretudo por programas
e jornais policialescos, que representam os bairros periféricos apenas sob a
ótica da violência e marginalidade de seus moradores.
Itinga (Lauro de Freitas) |
Cachoeira
Na
cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano, o debate aconteceu na UFRB
(Universidade Federal do Recôncavo Baiano) e discutiu a “Sustentabilidade das
Mídias Alternativas”. Participaram Alane Reis (Revista Afirmativa), Alex Hercog
(Vida Brasil/Intervozes), Geilson Gomes (Revista Rever), Thainá Dayube (Sete
Artes) e Tássio Santos (Herdeira da Beleza), que apresentaram suas experiências
com mídias alternativas, além das dificuldades e soluções para enfrentar o
problema de sustentabilidade desses meios.
Alane Reis (centro), Thainá Dayube e Tássio Santos (esq.), Geilson Gomes e Alex Hercog (dir.) |
UFRB/Cachoeira |
Para
Alane Reis, que se formou na UFRB e começou a produzir a Revista Afirmativa
ainda na época de estudante, debater a democratização da comunicação é pensar
coletivamente a conquista de um direito negligenciado pelo Estado, que é o
direito à comunicação e liberdade de expressão. Segundo ela, “falar de
democracia plena sempre será utopia, se os principais meios de comunicação
pertencerem ao setor privado”. Ela acredita que a profissão de jornalista é
fundamental para perpetuar ou combater as violências e estigmas que fazem parte
da cultura fundadora do Brasil. Por isso, a importância de incluir Cachoeira na
agenda de atividade da Semana pela DemoCom, pois “é importante mobilizar o
debate na Universidade e questionar as diretrizes curriculares”, conclui Alane.
Conceição do Coité
Na
UNEB/Coité (Universidade do Estado da Bahia), o projeto “Prazer em Conhecer”,
promovido pelo professor Moisés Santos, recebeu o professor-mestre Dioclécio
Luz (Universidade de Brasília) que participou da palestra “O jornalismo nas
rádios comunitárias” e realizou oficinas de “Análise Crítica da Mídia”.
UNEB / Conceição do Coité |
Para
Moisés, a atividade foi importante para mobilizar a universidade acerca da
discussão sobre democracia e direito à comunicação. Segundo o professor, esse
debate é quase um tabu na sociedade, por isso a importância de realizar
atividades no município: “Mesmo longe dos grandes centros urbanos, ao nosso
modo, sob um olhar local e regional, queremos estar juntos e engajados nessa
luta nacional”.
Moisés
Santos também destacou o debate em torno das rádios comunitárias que, segundo
ele, “contribui para democratizar o sistema midiático, apesar dos esforços do
Estado e dos políticos para criminaliza-las, além das burocracias que tentam
sufocar o movimento”. O professor ainda anunciou que o debate em torno da
comunicação pública será central no próximo semestre do curso, destacando que
“é imperativo debatermos constantemente o direito à comunicação, que é tão fundamental
como o direito à saúde, educação e segurança”.
Vitória da Conquista
No
sudoeste baiano, na cidade de Vitória da Conquista, a Revista Gambiarra promoveu
a roda de conversa “Qual o papel dos Movimentos Sociais na luta pela
democratização da comunicação?”. A atividade ainda contou com a exibição do
documentário “Um poquito de tanta verdad", do diretor Jill Freidberg, que discute
a relação de mídia e poder, a partir dos acontecimentos ligados ao levante
popular ocorrido em Oaxaca (México), em 2007.
Vitória da Conquista |
Para
Rafael Flores, da Revista Gambiarra, o debate sobre comunicação em Vitória da
Conquista ainda é incipiente, por isso que o foco do debate girou em torno dos
movimentos sociais e sua participação na luta pela democratização. Rafael
destacou que “o bacana foi que a ampla participação possibilitou que o poder
público municipal apontasse as formas de ocupação que serão abertas a partir do
Canal da Cidadania, que chega a Vitória da Conquista no próxima ano”. Segundo
Rafael, a atividade promovida foi além do didatismo, de apenas apontar o que
está errado e da necessidade de regulação e regulamentação, “mas também de
enxergar soluções práticas e locais”.
Ilhéus
No
sul da Bahia, o CACOS (Centro Acadêmico de Comunicação Social) da UESC
(Universidade Estadual de Santa Cruz) incluiu o debate sobre a democratização
da comunicação nas atividades da Calourada Acadêmica. No dia 23, a Enecos
(Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social) realizaram a roda de
diálogo “Comunicar pra que (m)?”
UESC / Ilhéus |
Durante
a atividade, foi apresentado aos calouros um panorama sobre o movimento
estudantil de comunicação e as principais pautas reivindicadas pelo movimento
pelo direito à comunicação. Também foi debatido o uso de mídias universitárias.
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