O Seminário "Expressões e Impressões do Fórum Social Mundial 2016" será realizado no próximo 18 de outubro, das 14 às 18 horas no auditório da Escola de Administração da UFBA. Este seminário pretende não só retratar o que foi o FSM 2016, mas também contribuir para uma reflexão sobre os processos de convergência dos movimentos sociais em prol de uma agenda comum, um assunto bastante relevante na atual conjuntura brasileira, baiana e planetária.
O que é o Fórum Social Mundial?
“Um
outro mundo é possível!” É com esse lema que o Fórum Social Mundial (FSM)
tornou-se conhecido. Surgido em Porto Alegre em 2001 por iniciativa de
organizações da sociedade civil brasileira e planetária, o FSM desafiou o Fórum
Econômico de Davos, rebateu o discurso vigente do pensamento único neoliberal e
denunciou os efeitos perversos da globalização econômica e financeira.
O
evento mundial foi reiterado na capital gaúcha em três edições, foi para Índia,
Quênia e voltou ao Brasil em 2009, em Belém. Nesta década, as edições mundiais
do FSM ocorreram principalmente em cidades africanas: Dacar (Senegal) em 2011 e
Túnis, capital da Tunísia e berço da primavera árabe, em 2013 e 2015. Na última
edição, em agosto passado, a voz dos movimentos sociais foi levada de forma
inédita em um país do “Norte”, no Canadá, no coração do capitalismo
norteamericano.
Paralelamente à edição mundial, fóruns sociais locais, regionais e temáticos multiplicaram-se pelo mundo, estreitando cada vez mais a relação entre o local e o global.
O
FSM virou o símbolo da busca por um outro modelo de desenvolvimento para o
planeta, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Soube reanimar a chama
da utopia no imaginário coletivo planetário. Não só militantes mas também
muitos governantes que acessaram o poder pelas urnas, como na América Latina,
reconhecem-se como “filhos e filhas do FSM”.
FSM 2016 em Montreal: o
primeiro FSM no Norte
A
última edição mundial foi realizada de forma inédita em um país do hemisfério
Norte, em Montreal (Canadá), de 9 a 14 de agosto. A província de Québec, onde fica Montreal, destaca-se como
um importante território de resistência ao neoliberalismo e de construção de
alternativas coletivas ao sistema dominante na região. A população canadense
derrubou no ano passado o governo conservador que, durante 10 anos, conduziu
uma política econômica ultraliberal baseada em um extrativismo predatório e um
forte conservadorismo social. A luta contra as areias betuminosas e oleodutos
no Canadá, a mobilização dos povos indígenas pelos seus direitos, a força dos
movimentos sociais, sindicais e ambientalistas, têm contribuído para essa
mudança política e motivaram a escolha de Montreal para realização do FSM 2016.
“Um
outro mundo é necessário. Juntas/os, torna-se possível” foi o lema do FSM
2016. Organizado por um comitê local formado principalmente por jovens, o evento
inovou em muitos aspectos, mas também enfrentou grandes dificuldades, começando
pela negação de vistos para mais de 500 ativistas, principalmente de países
africanos, do Oriente Médio, da Ásia e da América Latina, incluindo o Brasil.
Que
balanço pode ser feito, quais foram os avanços e os desafios do FSM 2016? São
alguns dos questionamentos que vão orientar a 1ª mesa do seminário.
O FSM: mais do que um
evento, um processo
O
FSM, na sua caminhada de 15 anos, envolveu movimentos e países tão diversos que
a sua edição mundial tornou-se o maior encontro da sociedade civil planetária. Por
isso, para além do evento, o FSM é um processo de mobilização, articulação e construção.
O
FSM já teve muitas contribuições: pautou na agenda mundial o aumento das
desigualdades decorrentes da financeirização da economia e valorizou outros
paradigmas de desenvolvimento, a exemplo do “bem viver” defendido pelas
populações indígenas andinas e amazônicas em contraponto ao “viver melhor” da
ideologia capitalista; ou de outras formas de economia, da economia solidária à
economia do cuidado dos movimentos feministas. Aprofundou o sentido da
participação da sociedade civil, estimulou a criação e o funcionamento de
múltiplas articulações nacionais e internacionais e inspirou a implementação de
diversas políticas públicas.
A
questão hoje é saber se o FSM é capaz de traçar uma estratégia articulada de
superação do capitalismo e trazer respostas viáveis à crise civilizatória pela
qual passa a humanidade. O capitalismo entrou em crise de múltiplas dimensões nos
últimos anos e busca formas de se reinventar. Nesse contexto, como articular as
lutas e ações específicas e localizadas com uma luta mais global? Quais as
possibilidades de convergências das atuações da sociedade civil organizada, no
Brasil como no mundo? Qual é o papel que um espaço como o FSM pode cumprir? Que
mudanças, notadamente de cultura política, devem ser trazidas no processo do
FSM? Essas questões serão aprofundadas na 2ª mesa do seminário.
A Bahia e o Brasil no FSM
As
organizações e movimentos sociais brasileiros possuem uma responsabilidade
histórica no processo do FSM. Na Bahia, e mais especificamente em Salvador, diversos
eventos relacionados com o FSM foram organizados na última década, tais como o
1º Fórum Social Baiano em 2004, o 2º Fórum Social Nordestino em 2007 ou ainda um
Fórum Social Mundial Temático em 2010. No final da década anterior, ocorreu uma
certa desmobilização, como consequência do distanciamento da edição mundial do
evento e da falta de informações, mas também da descrença sobre a capacidade
das instâncias de facilitação do processo FSM de reinventar-se na atual
conjuntura.
Desde
2013, um coletivo baiano foi novamente formado, composto hoje por mais de 30
organizações e movimentos sociais. A sua participação no processo do FSM,
incluindo nas 3 últimas edições mundiais do evento, foi intensa, resultando no
fortalecimento das relações internacionais em diversas áreas: enfrentamento ao
racismo, participação e democracia, direitos das mulheres, das pessoas com
deficiência, democratização da comunicação, meio ambiente, direito à cidade, entre
outros. Diversos seminários nacionais e internacionais foram realizados nos 3
últimos anos em Salvador, a exemplo de um encontro, em outubro 2015, que contou
com a presença do Conselho Internacional do FSM.
A
ruptura na conjuntura brasileira, com o retrocesso democrático e a crônica
anunciada de uma deterioração dos direitos humanos e de um aumento das
desigualdades, coloca novos desafios para os movimentos sociais brasileiros. Com
um futuro do Brasil tão incerto, quais estratégias de enfrentamento podem ser
delineadas? Como o processo do FSM pode contribuir? Essas questões devem
permear a 3ª e última mesa do seminário.
PROGRAMAÇÃO
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