Por Damien Hazard
Cheguei
em Salvador. Dois dias de viagem foram necessários. Na ausência de vôos diretos
entre a capital, Bissau e o Brasil, voltei pelo mesmo caminho da ida: peguei a
estrada de Bissau a Ziguinchor, no sul de Senegal, depois um avião até Dacar,
outro até Lisboa e enfim o último vôo para chegar em Salvador! Ufa ! Quando
penso que um voo direto de Bissau até Salvador não demoraria mais do que 4
horas! Estamos tão perto e ao mesmo tempo ainda tão distantes. Mais do que
geográfica ou cultural, a distância é simbólica e reflete um desconhecimento
ainda vigente no Brasil em relação aos países africanos de língua portuguesa
que, além da Guiné-Bissau, incluem Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. O Brasil é para cada um deles bem mais próximo
do que qualquer um deles parece estar para nós.
Acorda
Brasil! Diversas organizações e movimentos brasileiros envolvidos estão
fortalecendo a sua atuação em questões e articulações internacionais. A Vida
Brasil está participando ativamente desse processo, como protagonista e como
articuladora. Essa viagem de intercâmbio, que se acrescenta a diversas outras que
a Vida Brasil realizou em múltiplos países principalmente africanos – o
anterior foi na Tunísia, em março, na ocasião do Fórum Social Mundial 2015 -
fortalece o nosso entendimento e a nossa percepção do quanto o papel da
sociedade civil organizada é fundamental na construção de um mundo mais justo; do
quanto a colaboração entre organizações de países distintos (mas em muitos
aspectos próximos) pode apontar caminhos valiosos para todas e todos. Nossos
destinos estão intrinsecamente ligados, de norte a sul e de sul a sul. Uma nova
ordem mundial está sendo desenhada, aqui e lá, com a ameaça de intensificação da
mercantilização da vida e dos bens comuns. Mas é também nesses momentos de
transição e até de crise que novas possibilidades, rupturas e soluções podem
surgir, com a participação da sociedade civil organizada.
A
Guiné-Bissau acabou de completar um ano de regime democrático, no último dia 23
de junho. Após a independência de Portugal em 1974, liderada por Amilcar
Cabral, o país teve a oportunidade de eleger vários presidentes, mas nenhum até
então conseguiu completar o seu mandato. O último golpe de estado foi em abril
2012, quando os militares tomaram o poder. Foi notadamente a pressão
internacional que levou a organização de eleições, em 2014. Desta vez, tudo
indica que o atual governo completará o seu mandato. Esta é, pelo menos, a
afirmação das diversas organizações da sociedade civil que tive a oportunidade
de encontrar. As condições parecem favoráveis para construção de políticas
nacionais e regionais de desenvolvimento mais inclusivas.
Tive o grande
privilégio de poder viver na Guiné-Bissau real e presente, encontrar pessoas,
grupos, instituições e organizações de todo país. Conhecer melhor Bissau,
descobrir Cacheu, Canchungo, Oio... Conversar e ouvir os depoimentos de
lideranças, arrepiantes e cativantes, de pessoas com deficiência acerca da sua
história e da sua luta por direitos. Também viajei no passado da Guiné-Bissau,
na sua história colonial e por independência, e me ajudou melhor entender o seu
presente. Tive, enfim, o imenso prazer de tentar enxergar de frente o seu
futuro, junto com atores guineenses das mais diversas esferas, e de ajudar a
construir caminhos, planejando ações e construindo um projeto de mudanças, com
base no possível e no necessário, e sem nunca desistir do sonho. Combinando,
como dizia Gramsci, o pessimismo da razão com o otimismo da vontade.
É tudo isso
que nos move, que nos dá vida! Em meio a tristezas daquelas e daqueles que
partem (e a Vida Brasil perdeu duas pessoas queridas nesse período de volta
para Bahia, Norinha e Samuca, que vão deixar muita saudade), há todas essas
novas relações e construções que nos mantém vivas.
Guiné-Bissau, nossos agradecimentos por todos esses momentos! Estamos juntos!
Confiram o Álbum de Fotografias da viagem:
https://www.facebook.com/ong.vidabrasil/media_set?set=a.850107728392434.1073741844.100001796450784&type=3
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