quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Vida Brasil: Retrospectiva 2013

A Vida Brasil deu uma parada no dia 20/12 e volta 06 de janeiro de 2014. Com 2013 chegando ao fim, é hora de relembrarmos tudo o que aconteceu nesse ano.
Janeiro começou com uma boa novidade: projeto de Cozinhas Solidárias, coordenado por Débora Rodrigues. A partir da experiência que já vinha sendo desenvolvida há alguns anos com as cooperativas da Rede de Alimentação, a Vida Brasil foi contemplada pelo Programa Vida Melhor, da SEDES/Governo do Estado da Bahia, para ampliar suas ações. Com isso, a Vida Brasil passou a executar o projeto de Cozinhas Solidárias, ampliando para 14 os núcleos cooperativos do ramo alimentício, oferecendo assessoria técnica e infra-estrutura para os empreendimentos já existentes e outros que foram formados. As cozinhas do Bairro da Paz, de Dias D´Ávilla e da Pituba/Nordeste já foram inauguradas, além da Rango Vegan que recebeu uma reforma e doação de novos equipamentos. Nas próximas semanas a previsão é que todos os núcleos sejam inaugurados.
Cozinha do Centro Comunitário da Pituba, do núcleo do Nordeste de Amaralina

O Projeto Buscapé também continua! Ao longo de 2013 foram diversas oficinas de arte-educação, ministradas pelos instrutores Jorge Conceição e Paulo Roberto, e de fabricação de instrumentos musicais com Roberto Aranha e Osias dos Anjos. As atividades foram coordenadas por Ametista Nunes e realizadas na escola municipal Luiz Rogério, no bairro de Castelo Branco. Os meninos e meninas da escola tiveram a oportunidade de aprender a confeccionar instrumentos percussivos e debater temas ligados a questões de gênero, etnia e sexualidade, além de conhecer melhor o Estatuto da Criança e do Adolescente. E pelas ruas de Irará, a Banda Purificaiyê marcou presença no Dia da Consciência Negra, além de realizar diversas apresentações durante o ano.
Estudantes do col. Luiz Rogério, que participam do Buscapé!

Na semana do dia 21 de Setembro, Heron Cordeiro, Islândia Costa e Damien Hazard participaram de diversos seminários e entrevistas em tv e rádio, para debater o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
Já no dia 3 de Dezembro, foi realizado o 16º Seminário de Acessibilidade e Cidadania de Salvador, promovido pela Vida Brasil e pela rede COCAS. O tradicional seminário discutiu temas como Políticas Públicas, Educação Inclusiva e Transporte Acessível, contando com a participação de cerca de 200 pessoas, além de palestrantes do poder público e da sociedade civil.
16o Seminário de Acessibilidade e Cidadania de Salvador

Em novembro e dezembro, a Vida Brasil também participou de um projeto de pesquisa internacional, que tem como objetivo pesquisar e medir a participação das pessoas com deficiência no processo de desenvolvimento local e inclusivo em cidades de Madagascar, da França, em Québec (Canadá) e em Salvador. O monitoramento ainda está sendo feito e o resultado da pesquisa será encaminhado em janeiro para a Fondation Internationale de Recherche Appliquée sur le Handicap (FIRAH), que financia o projeto.
Projeto de pesquisa internacional aplicado pela Vida Brasil

Além desses projetos, a Vida Brasil desenvolveu em 2013 assessorias de acessibilidade e de participação em políticas públicas, com destaque para as oficinas que Damien Hazard ministrou em Angola, Tunísia e Marrocos e a avaliação de um projeto de acessibilidade em Moçambique realizada por Heron Cordeiro. A Vida Brasil também se fez presente em diversos seminários, fóruns audiências públicas e atividades de organizações parceiras.
Assessoria para organizações de Angola

Em novembro, colaborou com a realização da Audiência Pública que mobilizou parlamentares para discutir a necessidade de um Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. A Vida Brasil também participou ativamente, com representante da Abong (Associação Brasileira de ONGs) no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, da organização do FSM 2015 na Tunísia: promoveu juntos com parceiros a mobilização local e coordenou um intercâmbio de representantes de organizações baianas e brasileiras com organizações da região, durante o encontro em Tunis, no mês de março. Foram realizadas atividades conjuntas sobre temas como democracia participativa, acessibidade e direitos das pessoas com deficiência, e ainda enfrentamento ao racismo.
Vida Brasil

2013, portanto, foi um ano de muitas atividades e realizações. Agradecemos à equipe da Vida Brasil: Alain, Damien, Islândia, Heron, Ana, Débora, Ângela, Dulce, Jaílton, Alex, Sandra, Ametista, Jorge, Roberto, Paulo e Osias; aos que passaram por aqui nesse ano: Viviane, Cleide, Róbson, Thiago e Conceição; aos que nunca deixaram a Vida Brasil: Vanessa, Edmundo, Clevandira, Wilson, Bruna, Laila, Chico, Mário, Zélia, Rosana, Antônio, entre outras pessoas; às mulheres e homens dos grupos do Projeto de Cozinhas, do projeto Buscapé e de toda a rede COCAS; às instituições parceiras que apoiaram nossas atividades, tais como SEDES, Fé Criança, TDK, Vida Brasil France, Handicap International; a todas as pessoas, organizações e movimentos parceiros da Abong, da economia solidária, da acessibilidade e de defesa de direitos e bens comuns. Todas e todos, juntas e juntos, contribuíram para mais um ano de luta por uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

Que 2014 seja ainda melhor que 2013!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

16o Seminário de Acessibilidade e Cidadania é realizado em Salvador


3 de Dezembro: Dia Internacional das Pessoas com Deficiência! Data instituída pelas Nações Unidas e que desde 1997 é celebrada pela Vida Brasil com a realização do Seminário de Acessibilidade e Cidadania de Salvador. Em 2013, o evento chegou à sua décima sexta edição, promovida pela AFAGA (Associação dos Familiares e Amigos da Gente Autista), FCD (Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência), rede COCAS (Comissão Civil de Acessibilidade de Salvador), além da Vida Brasil.

Mais do que comemorar o dia, o Seminário sempre serviu para debater e mobilizar a sociedade para a luta pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência e tirá-los da invisibilidade historicamente imposta. Nesse ano, não foi diferente. Com o tema “Sociedade Inclusiva: Utopia ou Realidade?” o 16º Seminário fez um balanço da luta nas últimas décadas, discutiu os retrocessos e avanços, e questionou o que ainda falta para que a acessibilidade seja, de fato, uma realidade.

Luziano (GAPDICA)


Enquanto os quase 200 participantes, de 75 entidades, se acomodavam no auditório do Hotel Victoria Marina de Salvador, quem comandou a apresentação cultural foi Luziano, da GAPDICA. Em seguida, o mestre de cerimônia Antonio Pereira (Organização Perspectivas em Movimento) deu as boas-vindas, iniciando as atividades.

A mesa de abertura contou com a participação de: Almiro Sena (Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - BA), Luciana Sarno (Cáritas NE3), Evangel Vale (COEDE), Islândia Costa (Vida Brasil), Lucyvanda Moura (CESE), Mariana Maciel (Afaga) e os vereadores Gilmar Santiago, Aladilce Souza e Fabíola Mansur. Todos saudaram o evento e destacaram a importância do Seminário para o movimento social das pessoas com deficiência.



Em seguida, foi a vez de Ninfa Cunha e Deo Carvalho apresentarem o espetáculo de dança “O Adeus”.

A primeira mesa de debates discutiu “Democracia Participativa” e contou com a presença de Damien Hazard (Vida Brasil/COCAS), Alexandre Baroni (SUDEF – Superintendência dos Direitos das Pessoas com Deficiência) e Evangel Vale (COEDE – Conselho Estadual do Direito da Pessoa com Deficiência). A facilitadora foi Islândia Costa (Vida Brasil).

Damien Hazard trouxe um histórico do movimento, que teve um marco principal nos anos 1980, com a criação da Associação de Pessoas com Deficiência, se ampliando na década de 1990. A luta das primeiras organizações se debruçou em três contextos onde a pessoa com deficiência mais sofria discriminação: transporte, educação e família.

Damien Hazard, coordenador da Vida Brasil


O coordenador da Vida Brasil ainda apresentou o resultado de uma recente pesquisa, desenvolvida pelo projeto FIRAH, que buscou avaliar a relação entre organizações da sociedade civil e o poder público no Brasil. De acordo com Damien, os resultados mostraram que a partir da última década se aumentou o diálogo com o Governo e que as organizações são mais ouvidas, destacando a realização de conferências e criação de conselhos.

No entanto, a pesquisa revelou que o diálogo não é sinônimo de intervenção nas políticas públicas. A qualidade dessa intervenção foi avaliada como baixa. As entidades de pessoas com deficiência ainda têm sua participação limitada à fase de planejamento das ações governamentais, mas na execução, acompanhamento e avaliação, ainda há pouco espaço e poder de intervenção.

Damien Hazard finalizou sua apresentação com um questionamento: “Será que os espaços institucionais bastam?”.

Alexandre Baroni (SUDEF)


Quem se apresentou na seqüência foi Alexandre Baroni, que dirige a SUDEF - Superintendência dos Direitos das Pessoas com Deficiência. O superintendente apresentou a SUDEF e pontuou algumas realizações: o projeto de acessibilidade no Pelourinho, no Parque Metropolitano de Pituaçu e no prédio da Secretaria de Justiça. Também citou a participação do órgão no GT de Acessibilidade para a Copa e no GT de Mobilidade do Conselho das Cidades.

Baroni ainda destacou três projetos da SUDEF: “Um por todos e todos pelo outro”, que promove palestras, dinâmicas e oficinas para educar para a diversidade; “Diálogos sobre inclusão”; e a aprovação do “Passe Livre Intermunicipal”, a partir da lei 12.575/2012. Além disso, citou a aplicação de multas e notificações em espaços como hotéis, bancos e clínicas.

Evangel Vale (COEDE)


Já Evangel Vale, conselheiro do COEDE, foi enfático ao afirmar que não houve avanços no Estado, se tratando das políticas inclusivas. Segundo Evangel, não se pode chamar de “avanço” políticas que são de reparação e que visam atender o que já determina a Constituição. Para ele, é preciso ter uma renovação constante no movimento social e uma maior participação pública no interior do estado. Evangel ainda pontuou que o próprio governo discrimina a SUDEF.

O conselheiro também questionou a maturidade e o grau de representatividade das instituições ligadas à luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Para ele, as organizações não acompanharam o ritmo dos novos espaços de participação e que elas também precisam ser revistas, deixando de ser segmentadas e abrindo-se mais para a sociedade. Ainda de acordo com Evangel, é necessária uma renovação, “mexer na base, para ter novos atores na ponta”.

Após a apresentação dos palestrantes, o debate foi aberto para a plenária. Muitos trouxeram questionamentos sobre as políticas públicas do Estado da Bahia, que foi respondido por Alexandre Baroni, na condição de diretor da SUDEF.

Debate com a plenária


O superintendente justificou que apenas o Parque de Pituaçu está incluído no projeto de acessibilidade da SUDEF, pois a demanda parte de quem aciona a SUDEF que, no casso do parque, é de responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente, que fez a solicitação. Já em relação aos de acessibilidade no sistema ferry boat, ele explicou que existem, mas não foram executados pelo governo.

Ainda respondendo à plenária, Baroni explicou que a SUDEF apoia, mas não tem gestão sobre o Conselho Municipal. Também esclareceu que na SUDEF não há dificuldade para entender o autismo como deficiência, tanto que eles estão incluídos no projeto de Passe Livre Intermunicipal.

Debate com a plenária


Alguns participantes criticaram o desconhecimento da maioria dos vereadores de Salvador sobre a questão da acessibilidade, e também da Secretaria de Justiça no acompanhamento de pessoas com deficiência com problemas judiciais. Também foi dito que o setor de turismo no país precisa melhorar, pois é totalmente inacessível.

Outros, no entanto, afirmaram que houve avanço na legislação e que isso é mérito, sobretudo, da luta do movimento social. A importância do Seminário também foi destacada. Nas considerações finais, os palestrantes reconheceram que o contexto atual é melhor para as pessoas com deficiência, mas que ainda há muito a se conquistar para a garantia de direitos e inclusão.

À tarde, a mesa teve como tema “Educação Inclusiva”. Participaram: Teófilo Galvão Filho (professor e consultor em Tecnologia Assistiva, Educação Inclusiva e Políticas de Inclusão Social); Mariene Martins Maciel (AFAGA); Patrícia Braille (Coordenadora de Educação Especial da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia); e Teresa Cristina Sousa (Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico da Secretaria de Cultura/CENAP-Secult). O facilitador foi Edmundo Xavier e Rosana Lago.

Mariene Maciel, Patrícia Braille, Edmundo Xavier e Rosana Lago


Mariene Maciel trouxe diversas leis e documentos internacionais, como a Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência. Ela destacou, no entanto, o PNE – Plano Nacional de Educação, desenvolvido pelo governo federal para os anos de 2011 a 2020, mas que ainda está em fase de discussão. A meta 4, segundo ela, é uma das mais polêmicas, pois estabelece os responsáveis pela educação inclusiva. Para Mariene, o poder público é quem tem que assumir essa demanda e capacitar os professores e profissionais para atuarem. Ela se posicionou contra a emenda do senador Álvaro Dias e à favor do texto original da Meta 4.

A coordenadora Patrícia Braille, que recentemente assumiu a coordenação de Educação Especial da Secult-BA, apresentou um pouco da sua trajetória. Ela descreveu suas experiências como consultora da ONU, em projetos ligados a pessoas com deficiência visual, em cidades com grandes e pequenas estruturas, destacando que foi no interior que viu o que é fazer acessibilidade. Patrícia reconheceu os avanços e afirmou que ainda conserva em si “o sonho de mudar o mundo”.

Teresa Cristina (SENAP) e o professor Teófilo Galvão


Já o professor Teófilo Galvão foi bastante claro em sua apresentação, concluindo que não basta só discutir a educação inclusiva, mas modificar o modelo atual de educação, repensar os paradigmas atuais que, segundo ele, foram construídos dentro de um contexto industrial do século XIX, baseado na uniformidade. Para o professor, é necessário desconstruir os paradigmas que prevêem uma educação focada na memorização e repetição, e que não prevê as diferenças.

De acordo com Teófilo, debater o modelo de educação é fundamental, para também se pensar aspectos ligados a uma escola inclusiva. Como aspectos fundamentais, ele destacou: arquitetura para uma escola acessível; formação de profissionais; flexibilização curricular; e tecnologia assistiva.

A coordenadora Teresa Cristina citou o programa “Educação Inclusiva: Direito à Diversidade” e destacou alguns projetos da CENAP-Secult. Ela apresentou dados sobre aquisição e distribuição de material específico para estudantes com deficiência sensorial, como máquinas Braille; formação continuada para professores; atendimento domiciliar; salas de recursos multifuncionais e realização de seminários e oficinas.

Debate com a plenária


No debate, a plenária destacou a falta de implementação de projetos governamentais nas cidades do interior da Bahia. Também se criticou a ausência de políticas para pessoas com albinismo; o atraso de salários dos intérpretes de sinais na rede estadual; a necessidade de também capacitar todo e qualquer cidadão para se comunicar com qualquer pessoa, independente da deficiência; e a necessidade de qualificação das pessoas com deficiência, para que possam assumir os cargos oferecidos pelo setor privado.

Na última mesa, o tema foi “Transporte Acessível”. Participaram: Yan Grenier (CIRRIS/Canadá); Heron Cordeiro (Vida Brasil); e Vanderlino Santos (ASPEDELF). A facilitadora foi Zenira Rebouças (FCD). Antes, porém, houve uma apresentação de Xico Poeta, recitando alguns de seus versos.

Heron Cordeiro (Vida Brasil)


Heron Cordeiro trouxe em sua apresentação a questão da “mobilidade sustentável”, chamando a atenção para a Lei Federal de Mobilidade Urbana (12.587/2012). Essa legislação traz as diretrizes da política nacional de mobilidade urbana que, segundo Heron, ainda está longe de ser seguido na prática. Ele destacou que essa política considera três dimensões para a mobilidade: sustentabilidade; acessibilidade; e circulação. Heron concluiu falando da importância de se considerar a mobilidade urbana como algo amplo, que não se limita apenas à circulação de automóveis na cidade, mas também de pessoas e garantia de que isso possa ser feito de forma acessível e sustentável.

Em seguida, se apresentou o canadense Yan Grenier, contando um pouco das questões ligadas à acessibilidade em Québec. Ele contou que desde 1978, com a criação de uma lei para nortear o poder público para garantir a inclusão de todo e qualquer cidadão na sociedade, houve muitos avanços no país.

Yan destacou a existência de um Comitê de formação mista, que se reúne periodicamente para acompanhar a execução das políticas públicas. Ele ressaltou que em Québec há poucas manifestações de rua, mas, em compensação, o diálogo entre o poder público e o movimento social das pessoas com deficiência é constante. De um lado, isso gera vantagens, mas também desvantagens, como a desarticulação do próprio movimento, cooptado e incorporado ao Estado.

Como exemplos de ações que funcionam em Québec, Yan citou o sistema de transporte acessível, que não apenas possui uma boa estrutura física, como também há um planejamento e organização que permite que as empresas de ônibus atendam as pessoas com deficiência em um horário agendado, os levando de suas casas ao destino exato que eles desejam.
Zenira Rebouças (FCD), Yan Grenier (CIRRIS), Damien Hazard (Vida Brasil) e Vanderlino Santos (ASPEDELF)

Concluindo as apresentações, Vanderlino Santos trouxe alguns problemas do sistema de transporte em Salvador e na Bahia. Para ele, o sistema atual não garante a inclusão e desrespeita a Constituição. Para Vander, também falta sensibilidade aos próprios passageiros, cobradores e motoristas para lidar com pessoas com deficiência. Ele criticou a estrutura da Estação da Lapa, em Salvador, a falta de manutenção nos ônibus e a inexistência de estrutura acessível em ônibus escolares entregues pelo governo e na frota de ônibus que fazem linhas intermunicipais.




O Seminário foi encerrado com os participantes destacando a importância do evento para o movimento e do reconhecimento de todos os que ajudaram em sua promoção, mesmo diante de tantas dificuldades, sem nenhum apoio público, contando com o voluntarismo das próprias pessoas e organizações envolvidas.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

16º SEMINÁRIO DE ACESSIBILIDADE E CIDADANIA DE SALVADOR


Seminário “Sociedade Inclusiva: Utopia ou realidade?”

marca o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência


No dia 3 de Dezembro, data em que se comemora o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, a capital baiana sediará o 16º Seminário de Acessibilidade e Cidadania de Salvador. O evento é realizado pela Associação Vida Brasil, Rede Cocas, Associação de Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga) e Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FCD), juntamente com outras 19 organizações ligadas ao movimento das pessoas com deficiência na Bahia e marca a história de luta desse segmento. O Seminário acontece no Hotel Sol Victoria Marina (Av. Sete de Setembro, 2068, Corredor da Vitória), das 8h às 18h. A entrada é gratuita, mediante inscrição (solicitar ficha via email ou fazendo o download clicando aqui).



Em 2013, com o tema Sociedade Inclusiva: Utopia ou Realidade?, além de fazer um balanço do que foi feito até agora, o movimento em defesa das pessoas com deficiência deseja que o seminário seja um espaço para discutir as perspectivas para o futuro. Principalmente, diante de um contexto em que a temática da acessibilidade vem ganhando destaque no país por conta da realização dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas 2016).

A programação do seminário conta com três mesas temáticas e uma série de apresentações culturais de grupos de pessoas com e sem deficiência. Entre os temas de destaque desta edição do Seminário estão: Democracia Participativa, Transporte Acessível e Educação Inclusiva. A experiência do Instituto de Pesquisa sobre Deficiência de Québec, Canadá (CIRRIS), também está prevista no evento.


Informações e Inscrição: 
16seminario2013@gmail.com
71 - 3321-4688 (Sandra Costa)

Assessoria de imprensa: 
Alex Hercog
comunicacaovidabrasil@gmail.com
71 3321-4688 / 8204-9664

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Programação:

08:30h - 12:30h
Credenciamento
Apresentação Cultural: Luziano (GAPDICA) - voz e violão

Mesa de Abertura

Apresentação Cultural: Ninfa Cunha e Deo Carvalho - Perspectiva em Movimento

Mesa I - Democracia Participativa
Palestrantes: 
- Damien Hazard (Associação Vida Brasil/COCAS)
- Alexandre Carvalho Baroni (Superintendência dos Direitos das Pessoas com Deficiência - SUDEF); 
- Evangel Vale (Conselho Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência - COEDE/BA);


12:30 - 14h
Almoço


14h - 18h
Apresentação Cultural: Chico Poeta

Mesa II - Educação Inclusiva
Palestrantes:
- Patrícia Braile (Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado da Bahia);
- Teresa Cristina de Holanda Sousa (Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico da Secretaria de Cultura/CENAP-Secult);
- Teófilo Galvão Filho (UFBA);
- Mariene Martins Maciel (AFAGA)


Mesa III - Transporte Acessível
Palestrantes:
- Yan Grenier (CIRRIS-Canadá)
- Heron Cordeiro (Associação Vida Brasil/COCAS)
- Aladilce Souza (Vereadora/Ouvidora da Câmara Municipal de Salvador)
- Vanderlino Sousa Santos (ASPEDELF)


Apresentação Cultural: NOZ Cego (teatro).
Encerramento

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Organização:
Associação Vida Brasil, Rede COCAS, Associação de Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga) e Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FCD)

Apoio:
CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviços;
Associação Vida Brasil;
FCD - Fraternidade Cristão de Pessoas com Deficiência;
Afaga - Associação de Familiares e Amigos da Gente Autista;
Gabinete da Vereadora Fabíola Mansur; 
Gabinete do Vereador Sílvio Humberto; 
Gabinete do Vereador Gilmar Santiago;
Gabinete da Vereadora Aladilce Souza;
Apalba - Associação de Pessoas com Deficiência de Pernambués;
ABDCR - Associação Baiana de Dança em Cadeira de Rodas;
ICB - Instituto de Cegos da Bahia;
Cáritas Regional N3;
Perspectiva em Movimento;
AESOS - Associação Sons do Silêncio
Gabinete do Deputado Zezéu Ribeiro;


Realização:
Associação Baiana de Deficientes Físicos (Abadef), Associação Baiana de Cegos (ABC), Associação da Pessoa com Deficiência e Amigos de Valença (Adav), Associação Baiana de Dança em Cadeira de Rodas (ABDCR),Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivo de Lauro de Freitas (Apadaf), Associação de Pias e Amigos de Síndrome de Rett (Arret), Associação Santoantoniense de Deficientes Visuais (Adesv), Associação de Deficientes de Simões Filho (Asdef), Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Deficiência dos Funcionários do Banco do Brasil e Comunidade (APABB), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Associação de Pessoas com Albinismo da Bahia (Apalba), Associação de Deficiente de Lauro de Freitas (Aspedelf), Centro de Surdos da Bahia (Cesba), Perspectivas em Movimento, Ser Dawn, União Baiana de Cegos (UBC), Instituto de Cegos da Bahia (ICB), Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FCD), Associação de Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga), Associação dos Atletas Baianos com Necessidades Especiais (AABANE), Associação Baiana para Cultura e Inclusão (Abaci), Associação Sons do Silêncio (Aesos), Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada) e Vida Brasil.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Audiência Pública reúne parlamentares e movimento social para debater Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil

Foi realizado ontem, 25.11, em Salvador, a Audiência Pública promovida pela Abong, CESE e Cáritas, que discutiu “As Organizações da Sociedade Civil (OSC) e a Democracia: por novas relações com o Estado”. Em pauta, a necessidade de um Marco Regulatório para as OSCs e os projetos de lei em tramitação no Congresso. O evento foi realizado no auditório do Ministério Público do Trabalho da 5ª Região e contou com a participação de cerca de 200 pessoas, de diversos segmentos do movimento social da capital e interior, além de parlamentares baianos.

Luiz Eugênio Miranda e José Carlos. Créditos: Vida Brasil

Na mesa de abertura, participaram José Carlos (Cáritas/Conselho de Segurança Alimentar-BA) e o promotor de Justiça Luiz Eugênio Miranda, representando o Procurador Geral do Ministério Público do Estado. Quem deu início à audiência foi Renato Cunha (Gambá/Abong-BA). José Carlos destacou a importância do evento, como forma de debater a necessidade de um arcabouço legal para a segurança jurídica das OSCs, enquanto que o promotor Luiz Eugênio afirmou que não é do interesse do Ministério Público criminalizar os movimentos sociais, ainda que a grande mídia só dê visibilidade para casos de escândalos e crimes.

Damien Hazard (Vida Brasil/Abong), Eliana Rolemberg (CESE/CLAI), e Daniel Rech (UNICAFES/Plataforma das Organizações da Sociedade Civil), mediados por Isadora Salomão (ELO/Abong) e José Carlos Zanetti (CESE), deram continuidade à mesa principal da Audiência.

Damien iniciou as apresentações trazendo um histórico dos movimentos sociais no Brasil, o cenário atual e a relevância do setor para a democratização do país. Ele chamou a atenção para o processo de criminalização sofrida pelas organizações – “há um risco de consolidação de um ambiente hostil e desfavorável para a atuação das OSCs”.

Damien Hazard, Isadora Salomão, José Carlos Zanetti, Eliana Rolemberg e Daniel Rech. Créditos: Vida Brasil.


Eliana deu seguimento, introduzindo as dificuldades e insegurança jurídica que afetam as organizações, devido a falta de um Marco Regulatório. Ela apresentou o processo de construção da Plataforma das OSCs e lamentou a falta de diálogo e cumprimento dos acordos por parte do governo federal da presidenta Dilma.

Já Daniel Rech trouxe o panorama atual dos projetos de lei que circulam no Legislativo federal, em especial o substitutivo ao PL 649/2011, apresentado pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e que se encontra em um estágio de tramitação mais avançado, podendo ser votado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado a qualquer momento.

Daniel também criticou algumas propostas do Congresso, que acaba beneficiando as grandes organizações, em detrimento das de pequeno porte. Elementos como obrigatoriedade da contrapartida; prestações de contas complexas; exigência do patrimônio do gestor como garantia para a captação de recursos; e obrigatoriedade no cumprimento de metas e prazos independente do atraso na liberação dos recursos, foram alguns dos pontos apontados por Daniel que, segundo ele, não respeitam a realidade das organizações e prejudica as de pequeno e médio porte.

Após as apresentações da mesa, a fala foi aberta ao público, que contou com a participação dos parlamentares presentes e dos representantes do movimento social.

Todos os deputados baianos da Assembléia Legislativa do Estado e da Câmara Federal, além dos dois Senadores e a Câmara de Vereadores de Salvador foram convidados para a Audiência, já que um dos objetivos era sensibilizar e mobilizar os parlamentares para a discussão sobre o Marco. Compareceram os deputados federais Zezéu Ribeiro (PT), Luiz Alberto (PT), Nelson Pelegrino (PT), além da assessoria de Afonso Florence (PT); os deputados estaduais Marcelino Galo (PT), Neusa Cadore (PT) e Carlos Brasileiro (PT); a senadora Lídice da Matta (PSB); e a Secretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Vera Lúcia Barbosa (Lucinha).

Deputado Federal Zezéu Ribeiro. Créditos: Vida Brasil.

Os deputados Zezéu, Luiz Alberto e Pelegrino foram unânimes em suas falas ao criticar a atitude do governo federal de suspender todos os convênios com OSCs, por conta de escândalos de irregularidades cometidos por algumas entidades. Zezéu lamentou o critério adotado e ainda provocou “então, vamos suspender os contratos com todas as empreiteiras”. O deputado ainda salientou que o Governo precisa pôr em prática o diálogo com os movimentos sociais e não apenas criar documentos e pactos conceituais.

Já Luiz Alberto trouxe a necessidade de discutir uma Reforma Política urgente – “podemos até reeleger a presidenta Dilma, mas ela continuará refém do Congresso conservador”, destacando as dificuldades que as pautas ligadas ao movimento social encontram ao se esbarrarem em um Legislativo sem compromisso com essa questão. Ele também destacou o intencional processo de criminalização dos movimentos sociais, com a conivência do Congresso: “CPI das ONGs pode, mas CPI para investigar os órgãos de controle do Estado não pode”.

Pelegrino alertou o movimento social sobre a importância de “ir para dentro do Congresso”, pois, segundo ele, o parlamento só funciona sob pressão. O deputado também criticou os técnicos do Ministério Público e do Tribunal de Contas que muitas vocês trabalham desconhecendo a realidade do terceiro setor e sem dialogar com as organizações. Ele ainda se comprometeu em sugerir uma emenda no orçamento específica para o setor e a propor uma Comissão Especial para centralizar as discussões sobre o Marco Regulatório.

A deputada estadual Neusa Cadore, que ficou do início ao fim da Audiência, destacou a importância do movimento social, afirmando que o Poder Público não tem competência, nem capacidade para substituir os trabalhos desenvolvidos pelas OSCs. Já a assessoria do deputado Afonso Florence, representado por Matheus Cotrim, destacou que os governos continuam reféns do poder econômico, que têm o interesse de estigmatizar os movimentos sociais. Ele ainda propôs a criação de um GT baiano de parlamentares, para debater o Marco Regulatório.

Senadora Lídice da Matta. Créditos: Vida Brasil.


Já a senadora Lídice da Matta sugeriu não deixar que o Marco seja votado agora, “às pressas, para não resultar em um projeto que piore a situação”. Ela apresentou algumas experiências internacionais, onde a relação das organizações da sociedade civil com os órgãos do Estado se dá de forma direta e conjunta, com pouca burocracia e muita eficiência.

Os representantes das organizações presentes também se posicionaram. Beto, do Movimento Popular de Rua, pontuou que diversos segmentos da sociedade estão em busca de seus respectivos marcos legais. Tânia Palma, oriunda de movimentos por moradia e atualmente Ouvidora da Defensoria Pública do Estado, afirmou que as pequenas organizações, sobretudo entidades-bairro, estão sendo perseguidas pela Prefeitura de Salvador, que as tratam como se fossem empresas.

Célia Regina, do Grupo de Jovens Liberdade Já, cobrou um maior poder de fala para os movimentos sociais na Audiência. Edmundo Kroeger, do CECUP, lembrou que o país precisa realizar não só uma Reforma Política, mas também travar o debate pela democratização da comunicação.

Débora Rodrigues. Créditos: Vida Brasil.


Representando o Fórum Baiano de Economia Solidária, Débora Rodrigues, coordenadora da Vida Brasil, fez uma análise sobre a legislação atual, afirmando que as cooperativas são as que mais sofrem o processo de exclusão, devido à incompreensão sobre o papel social delas. De acordo com Débora, as leis atuais para as cooperativas atrapalham a formalização e o acesso a recursos. Ela ainda condenou a criminalização dos movimentos sociais: “somos tratados como bandidos até que se prove o contrário, e quando se prova a mídia não divulga”.

A Audiência Pública terminou com a leitura de uma Carta Compromisso assinada por diversas entidades do movimento social, se posicionando sobre o Marco Regulatório das OSCs e cobrando uma resposta do governo federal e do Estado.

Para ler a íntegra da Carta Compromisso, clique aqui.
Para ver as fotos da Audiência, clique aqui.



Carta Compromisso - Audiência Pública

Abaixo, a Carta Compromisso proposta na Audiência Pública realizada no dia 25.11.2013 em Salvador, com o tema "As Organizações da Sociedade Civil e a Democracia: por novas relações com o Estado" - projetos de lei em tramitação no Congresso. O evento promovido pela Abong, Cáritas e CESE debateu o Marco Regulatórios das Organizações da Sociedade Civil.

Salvador,Bahia – 25-11-2013

CARTA COMPROMISSO – AUDIÊNCIA PÚBLICA

As Organizações da Sociedade Civil e a Democracia:
Por novas relações com o Estado
(e os Projetos de Lei em tramitação no Congresso)

         Apesar de toda contribuição prestada à democracia e à sociedade em geral, grupos e organizações populares, atravessam um processo de criminalização política e de judicialização, promovido por setores da mídia, poderes institucionais e grandes grupos econômicos. Estes setores estão inconformados com os avanços sociais, ainda que tímidos experimentados pela população, com base em direitos previstos na Constituição de 88.

         Ao longo dos anos, a experiência dos movimentos sociais e de ONGs no Brasil tornou-se uma referência internacional, reconhecida mundialmente pelas articulações progressistas, contando com o olhar atento e solidário da cooperação internacional, que passou a valorizar novas relações Norte-Sul e Sul-Sul.

         Marcada desde sempre pela originalidade da imbricação da criatividade cultural com a ação política, essa experiência trouxe um grande aprendizado ao país. Ela fez tornar realidade, a partir da aglutinação das energias dos movimentos sociais, ONGs e partidos de esquerda, a grande festa democrática do Fórum Social Mundial, cujas primeiras edições, não por acaso, ocorreram na cidade de Porto Alegre, que trazia a novidade do Orçamento Participativo. Foi também através dela que as primeiras “administrações populares” municipais e estaduais - com a inversão de prioridades e protagonismo dos movimentos e grupos populares - passou a provocar mudanças estruturantes na economia e na vida das pessoas.
        
         A novidade dos atores sociais que surgiam como quilombolas e comunidades tradicionais, a luta pela visibilidade de grupos minoritários ou minorizados, como as mulheres, indígenas em áreas urbanas, pessoas com deficiência, fóruns em defesa das crianças e adolescentes, movimentos de luta pela terra, pela diversidade sexual, a luta contra a intolerância religiosa, a noção melhor elaborada sobre as implicações do que sejam direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais – todo este caudal de visões e direitos inquietaram e inquietam as elites e grupos conservadores.

         A estratégia central tem sido esta: a da criminalização dos movimentos sociais, que oscila entre imagens caricatas e apelativas, a exploração criminalizante nas redes sociais, no parlamento e no judiciário, cujos recursos e arcabouço redundam no que se passou a caracterizar como a “judicialização” da política, a exemplo das inúmeras ações contra o Movimento Sem Terra ou contra as populações indígenas, como acintosamente ocorreu contra os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e, no plano da política institucional, a Ação Penal 470, processo conhecido como “mensalão”.

         A ofensiva conservadora tem inibido o avanço de políticas anteriormente definidas e negociadas e, nesse sentido, é crucial o aprofundamento público deste debate, bem como as gestões para se buscar um novo Marco Regulatório que, ao mesmo tempo garantam o financiamento de políticas fundamentais de atendimento e que levem em conta a contribuição e o papel das organizações no controle social – o que só é factível com autonomia e visão crítica desses atores políticos.

         Só assim, continuaremos reinventando e radicalizando o processo democrático que é, ao mesmo tempo, uma prática e um objetivo. Esta discussão, infelizmente vem “patinando” quase pelo mesmo período dos 10 anos, porque, certamente, será um passo decisivo para transitar de boas práticas de governo para as de um desejado Estado Democrático de Direito.
        
         Recuperamos a imensa disposição das Organizações da Sociedade Civil em contribuir para a concretização de um Novo Marco Regulatório para suas relações com o Estado. Entretanto, salientamos a pouca evolução em relação às expectativas e demandas destas Organizações.

         Percebe-se a crescente “mercantilização” e submissão às “regras de mercado” e ao pragmatismo político quanto às questões de políticas públicas tradicionalmente assumidas pelo governo e pelas OSCs e identificamos o risco de continuidade da insegurança jurídica e institucional, do recrudescimento de condicionalidades excessivas e normas burocráticas que o próprio Estado é incapaz de cumprir, bem como a de criminalização e exclusão das Organizações da Sociedade Civil.
        
         Reconhecemos a importância e a necessidade de tratados e normas jurídicas que ajudam a orientar e organizar as relações sociais. Todavia, para isso, é fundamental que tais tratados e normas estejam umbilicalmente ligados à realidade concreta da vida cotidiana das pessoas, organizações e instituições.

         Urge a aprovação de um novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil que as permita continuar a prestar relevante serviço de inclusão social e de fortalecimento das potencialidades locais no desenvolvimento dos territórios, na superação das desigualdades e, consequentemente, de todas as formas de violência. 

         Por estas razões, nós aqui presentes nesta Audiência Pública - Parlamentares, Organizações da Sociedade Civil e Movimentos Sociais – assumimos, no que tange os Projetos de Lei e substitutivos em tramitação no Congresso Nacional, o compromisso e a defesa irrestrita dos pontos subscritos, especialmente no que se refere à necessidade de:
        
1. Um instrumento próprio para reger repasses de recursos públicos para OSCs que atuam em prol do interesse público (convênios seriam exclusivos para repasses entre entes federados).
2. Uma legislação que abranja todos os níveis de governo (federal, estadual e municipal).
3. Reconhecimento de que o repasse de recursos pode visar tanto a colaboração das OSCs com políticas públicas quanto o fomento à atividade autônoma das organizações visando o interesse público (projetos de inovação, desenvolvimento de tecnologias sociais, controle social, educação cidadã, participação social, etc).
4. Consideração das entidades voltadas à inclusão econômica de grupos vulneráveis (população em situação de pobreza, pessoas privadas de liberdade e seus familiares, pessoas com deficiência, etc) como aptas a firmar o termo de parceria (cooperativas de economia solidária).
5. Chamamento público obrigatório (com regras visando ampla publicização).
6. Exigência de que as OSCs que recebam recursos tenham no mínimo três anos de experiência na área (exceto no caso de projetos visando fomento de grupos populares, pequenas OSCs, ver próximo ponto).
7. Previsão de repasses para OSCs especializadas na gestão de pequenos projetos de fomento a organizações populares e comunitárias, envolvendo financiamento e assessoria no planejamento e prestação de contas. 
8. Previsão de projetos realizados em rede, por várias OSCs consorciadas.
9. Autorização de contratação de pessoal próprio da OSC envolvido nas atividades previstas no plano de trabalho, dentro de padrões de mercado, incluídas todas as obrigações trabalhistas, estabelecida a não subsidiariedade trabalhista do órgão público.
10. Proibição da exigência de contrapartida financeira (a contrapartida das OSC tem que ser sua existência e experiência).
11. Regras de prestação de contas compatíveis com o volume dos recursos envolvidos, com prazos para a apreciação das contas por parte da administração pública.
12. Sempre que possível (atividades com resultados previsíveis e identificáveis), orientar o controle e a prestação de contas pelos resultados e não pelos procedimentos.
13. Previsão da destinação dos bens adquiridos para a execução do projeto após sua conclusão.

14. Adoção de sistemas informatizados de controle adequado às OSC e às características dos projetos desenvolvidos por meio dos termos de fomento e colaboração.